Eu estava quase à beira de um ataque com Richard puxando meu avental enquanto eu tentava lavar a louça:
- Richard, será que você pode me deixar em paz UM SEGUNDO? Ou vou contar pra mamãe que você prendeu Jolie no armário embaixo da escada. - Eu disse o encarando. (sim, meu irmãozinho também não gostava muito da persa arisca)
- Se Richie for, a Melli fica shhhhhhhh? - ele indagou colocando o seu pequenino dedo indicador perto da boca.
Eu apenas assenti com a cabeça e o imitei. - Melli fica shhhhhh pra sempre!
Ele saiu correndo em direção ao jardim chamando por Mike, logo em seguida minha mãe entra rindo sozinha.
- Alguém caiu do céu ou te deram aumento mamãe? - perguntei intrigada.
- Que besteira menina, não posso rir atoa? Aliás, havia me esquecido como seu avô tem grande poder de persuasão. Eu deveria tê - lo chamado para convencer seu pai de que seu nome TINHA que ser Stella. - disse tirando o sorriso do rosto.
- Poder de persuasão mamãe? Isso é lábia! E a senhora sabe que mesmo com a ajuda do vovô, papai jamais teria desistido dessa "batalha". - respondi tentando provocá - la.
Mas ela se deu por vencida, ou apenas não estava para muita argumentação. Anyway, minutos depois meu pai chega à cozinha dizendo que Kim estaria me procurando. Minha mãe pareceu um pouco nervosa:
- Que falta de educação a sua não convidar a garota pra entrar Anthony. Até parece que sua filha não está em casa.
- Calma querida, de repente Melli não quer conversar ou sair. - disse ele inocentemente.
- É mamãe, papai fez certo em vir aqui me avisar. Não é pra tanto chamá - lo de sem educação.
Assim que saímos da cozinha meu pai começou a rir e me dar uns cutucões por causa da situação. Chegando à varanda, Kim encontrava - se sentada no balanço e logo levantou sorrindo quando me viu:
- Mel my darling, como vai? - jogou as palavras num tom irritantemente amável.
- Estou ótima Kim, e você? - respondi não tão animada quanto ela. Apenas normal.
- Maravilhosamente bem chérrie. Que tal uma tarde no Starbucks Coffee?
Pude perceber um sorriso torto ao receber o convite. Tom sempre faz o mesmo caminho do ponto de ônibus quando vem de seu trabalho até em casa. Ele passa por volta daquele horário das 4 p.m pelo leste da Yonge Street. Seria um sonho vê - lo nesta tarde fria. Quem sabe ele não aproveitaria e tomaria um chocolate quente conosco?! Mordi o lábio tentando conter um enorme sorriso. Enquanto eu pensava comigo mesma Kim chacoalhava a mão tentando chamar minha atenção:
- Melanie? Está tudo bem? Oi? Terra para Winch. - dizia num tom preocupado. (Kim tinha costume de me chamar de várias maneiras. Winch era uma delas, a qual raramente alguém me chamava e também usava do seu pouco conhecimento em Francês, pois sabia que eramos de Marselha)
Eu respondi atordoada e saindo depressa da minha conversa interior: - Ah, oi, oi Tom... Quer dizer... Kim, vamos sim. Só um segundo e já vamos.
Apenas corri de volta pra dentro, avisei minha mãe aos berros que iria passear com Kim e voltaria antes do anoitecer. Voltei para me olhar rapidamente no espelho do corredor, ajeitar o cabelo e pegar minha velha jaqueta. Calcei o tênis com pulos atrapalhados. Passei por papai e o fiz balbuciar com um brusco, porém carinhoso beijo na face e bati a porta.
Enquanto andavamos, Kim não pode deixar de comentar sobre o nome que havia escutado:
- Por acaso alguém está apaixonada por Thomas Adam? - perguntou rindo sarcásticamente e cutucando minha barriga com o cotovelo ossudo. (Kim era um ano mais nova que eu, poucos centímetros menor também, cabelos e olhos castanho claro e delicadamente magra)
- Já não te disse pra manter esse seu cotovelo afiado longe de mim? - resmunguei. - E não tem ninguém apaixonado por aqui. Só lembrei que essa hora ela passa pela Yonge ué.
- Aham, entendo seu pensamento...
- Deixa isso pra lá. Ele é apenas mais um garoto e até parece que iria me olhar diferente. - resmunguei.
(Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah, peraí né Melanie?! Apenas mais um garoto? Tá falando de quem? Do Justin Bieber tentando ser mais famoso que os Beatles? Sou sua cosciência e tenho que me manifestar. Afinal de contas um garoto de 18 anos com quase 2 m de altura, moreno com a pele pouco avermelhada e dos olhos ardentemente escuros não é qualquer um que você encontra tipo "just around the corner" né meu bem?! Retomando...)
Realmente Kim deixou o assunto passar, mesmo que ela não conseguisse ficar calada todo o caminho, procurou por outros acontecimentos. Finalmente, quando meus ouvidos estavam prestes a explodir de tanto escutar minha vizinha tagarelando e meus olhos quase explodirem no meus instante ao avistar Tom passando por nós, chegamos ao Eaton Center. Para minha surpresa, ou não, Kim cumprimentou Tom tão naturalmente quanto o que eu seria capaz de ser:
- Hey Thomas, que tal um chocolate quente? - mais uma vez ela e seu cotovelo ossudo em ação, constrangendo alguém.
- Claro, por que não Kimberly?! - respondeu ele enquanto massageava a barriga tentando livrar - se do mal estar que aquele cutucão havia provocado.
Eu continuava admirando - o, discretamente é óbvio. E logo seus olhos encontraram os meus.
- Oi... Melanie Winchester, não é? - disse estendendo a mão.
- Só Mel. - eu respondi ignorando totalmente seu gesto.
Ele recolheu a mão e mexeu nos cabelos, em seguida senti seus lábios em minha bochecha que corou absurdamente na hora.
- Boa tarde Mel. - disse e afastou - se.
Tudo o que eu consegui dizer foi "é" e rir falsamente. (Por favor chamem o Harry ou alguém que saiba lançar um Everte Statum?! Acoooooorda Melanie!) Quando me dei conta já estavamos sentados em uma mesinha. Provavelmente Kim me arrastara pra dentro, não deve ter sido muito difícil porque geralmente fico molenga quando algo me encanta. (Não riam... Quem nunca ficou assim? Tá, não tão tonta. Mas boba e dispersa. Seja lá pelo que for, tenho certeza que vocês já tiveram um momento assim.) Kim e Tom conversavam como se fossem velhos amigos, quem mais falava era ela e ele apenas sorria por educação. Até que alguns minutos depois, talvez cansado de tanto escutar as novidades de Kimberly, Tom chamou minha atenção:
- E você Mel, o que tem feito nessas férias? - me encarou.
Acho que demorei um pouco pra processar o fato dele estar me chamando de Mel e interessado nos meus dias:
- Ah... De bom? Algumas viagens com minha família e outras noites no sótão com meu pai olhando as estrelas e ouvindo histórias da minha infância. E você?
- Bom, eu tenho trabalhado e não saio muito com meus pais. Quando tenho tempo saio com os amigos, mas nada tão diferente quanto o que você costuma fazer.
- Não é nada demais. É só tirar uma parte do seu telhado para olhar o céu. Só tem que se lembrar de colocar o telhado no lugar! - eu disse rindo espontaneamente.
Depois daquele pequeno comentário, ficamos quase uma hora conversando e nos divertindo enquanto tomavamos nossos chocolates quentes. Mas como tudo o que é bom dura pouco...
- Olha Thomas, eu e Kim temos que voltar pra casa antes que fique tarde. - disse desanimada.
- Tudo bem Mel, eu acompanho vocês. - ele respondeu gentilmente.
Kim não se atrevera a soltar uma palavra sequer que fosse estragar a conversa. Pensei até que o chocolate tivesse queimado sua língua. No caminho ela até deu um palpite ou outro sobre lugares diferentes à serem conhecidos, esportes e coisas à serem feitas no recesso. Não esperava que ela fosse tão consciente e ele tão...(por favor, me ajudem a encontrar uma palavra. Ficou difícil... É tipo um garoto legal, encantador, fofo e gentil) sei lá. (Diferente do Charles pra ser sincera, isso que eu estava pensando) Assim que chegamos na porta de casa, Kim se despediu de nós e passou voando pela porta. Ficamos só nós dois em frente ao jardim, o azul escuro da noite estava quase nos cobrindo ou fazendo companhia. Ele comentou:
- A tarde foi legal Mel, deveriamos fazer isso mais vezes...
- Quando você quiser Thomas. É só avisar. - eu respondi entusiasmada.
Ele tirou o celular do bolso e pediu que eu anotasse meu número. Nem precisava pensar duas vezes. Não era só pela aparência, mas ele valia a pena. Pelo menos foi o que demonstrou hoje. E então devolvi o celular:
- Pronto. É só ligar e a gente combina.
- Ok. A gente pode olhar as estrelas algum dia também... - ele disse olhando em direção ao terceiro andar da minha casa.
Eu apenas assenti e dei um beijo em seu rosto antes dele se virar e ir embora.
Não demorou muito para que eu entrasse, o frio estava aumentando. Deixei minha jaqueta no armário embaixo da escada e segui em direção a sala. Meus pais estavam assistindo TV e Richie desenhando. Mike provavelmente em sua casinha perto da garagem e Jolie no canto do sofá. Avisei - os de que tinha chegado e subi as escadas para entrar em meu quarto e tomar um banho. Escutei alguns barulhos em minha janela... Kim estava jogando as missangas de um colar para tentar me chamar. Abri as cortinas e levantei o vidro. A garota estava pendurada do outro lado sorridente e esperando que eu lhe contasse sobre um beijo ou algo do tipo. Me debrucei também:
- Não aconteceu nada demais ok?! Controle - se. Ele pegou meu telefone e disse que um dia nós poderiamos ver as estrelas daqui do sótão.
Ela riu do meu tom de indiferença repentino. Tipo, como assim? Só isso? Pra quem nunca falou com o garoto era um grande passo não?
- Sinto cheiro de romance hein chérrie.
- Shiu, fale mais baixo Kimberly. A vizinhança não precisa sentir esse cheiro também.
Nós duas rimos dessa vez.
- Agora vá procurar o que fazer e eu vou tomar banho. - disse quase a despachando.
Ambas janelas foram fechadas. Peguei minha toalha, liguei meu rádio e comecei a cantar e dançar pelo quarto acompanhando a música "Love Song" de uma das cantoras mais adoráveis, Sara Bareilles.
De banho tomado, e com uma enorme xícara de cereal e leite aqui estou eu digitando a aventura desta tarde. Não vai demorar muito para que eu comece a escutar Jason Mraz olhando o céu no teto do meu quarto lilás no meu "traje espacial" azul turquesa. Meu sono ainda não apareceu, mas logo logo ele vem e eu vou ter que deixá - los antes que um batalhão de formigas invada meu quarto amanhã cedo por causa do cereal derramado. Sei que ainda temos muito o que compartilhar, mas não se apressem, uma coisa de cada vez. Espero que durmam tão bem quanto eu e não fechem a janelas, só assim Kim não irá incomodar com suas missangas de milhares de colares disfeitos.
Good night sweeties!
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